"...para mostrar nos séculos vindouros a suprema riqueza da sua graça, pela sua bondade para conosco em Cristo Jesus" (Efésios 2:7).
O céu ainda estava estrelado, a aurora ainda não mostrara sua graça, precisamos sair bem cedo a fim de não pegarmos trânsito na ponte em Florianópolis e não perdermos o horário previsto para a cirurgia de calcanhar, de nosso filho Esdras.
Chegamos em frente ao Hospital Celso Ramos, por volta das 6:00 horas da manhã de uma terça-feira. O ar estava pesado, ainda que a brisa soprava levemente o seu frescor. Era uma cirurgia delicada, ele havia quebrado o calcanhar em oito lugares, ao cair de uma escada, cerca de 4 metros de altura.
Novamente em um hospital, mais uma vez na sala de espera, aguardando resultados, outra vez a angustia invadindo nossa alma. Dessa vez a vítima não era mais o marido e sim um filho, que aguardava o milagre. O cenário era de dor, fomos os protagonistas e não havia vilão nessa história. Nossos corações apertados dentro de nossos peitos, o pavor nos aterrorizava, procuramos no sorriso um pouco de alento e como o restolho de uma cana espremida, para produzir um suco espesso e suculento, sentimo-nos.
Enquanto ainda dentro do carro procurávamos descansar um pouco, antes da hora marcada, rompeu-se em meio os arbustos do hospital, o cântico do sabiá poca. Como poderia uma ave em sua bestialidade, cantar no meio de tanta adversidade e dor? A natureza por ventura não sentira o nosso dissabor?
Ele estava lá, nos mostrando no cântico do sabiá, que Ele governa e que é possível sim, colocar melodia na música da vida. As adversidades são apenas arranjos, que tornam nosso cântico expressivo e sinfônico. O sabiá estava encoberto pelas folhagens e gravetos, não conseguíamos vislumbrá-lo, mas podíamos ouvir seu cântico, era pequeno em relação a tantos ruídos e lamentos, mas conseguiu aplausos e as árvores e os outeiros batiam palmas. Que cenário magnífico!

Aí nesse momento, me lembrei, que somos vasos de barro e muitas vezes o plano de fundo de nossa existência não é o que planejamos, nem muito mesmo almejamos, mas temos que aceitá-lo e construirmos nosso próprio refúgio.
Olhei para as árvores ao derredor e notei que eram de todas as cores, espécies e idades. Haviam árvores alaranjadas, esverdeadas, rosadas, amarronzadas e acinzentadas. Haviam árvores velhas podadas, brotos que cresciam à sobra de outras e muitas enraizadas propagando sua espécime, entre muros e telhados. Isso me fez meditar que somos como árvores e passamos as fases de nossa vida, mudando de cor, aprofundando nossas raízes, criando brotos, balançando galhos, fazendo sombra e abrigando pássaros.
Enquanto a paciência e a esperança aguardavam o start cirúrgico, saímos a procura de um lugar para um café. Encontramos um ambiente aconchegante no andar de cima de uma panificadora, com um buffet variado de doces e salgados. Entre os quais estava o "strudel de maçã", que a muito tempo desejamos comer, me lembrei de um versículo de Cantares de Salomão:
"Sustentai-me com passas, confortai-me com maçãs, porque desfaleço de amor" (Cantares de Salomão 2:5).
Percebi mais uma vez a mão do Senhor, nos confortando, naquele momento em que necessitávamos sentir o seu amor.
Voltamos ao hospital e ficamos aguardando... esse momento é cansativo e desgastante, parece que as horas são eternas, nos deparamos com cenas de tristeza e dor, rostos afadigados, semblantes sombrios, sirenes de ambulâncias, aglomerados vítimas de tragédias, gente chegando e gente saindo.
A paciência e a esperança continuavam lá, lado a lado, nos acalentando, quando derrepente após quatro horas e meia alguém entra na sala e nos chamam. Chegou a hora de vermos nosso menino, nosso guerreiro, que foi ferido em campo de batalha; mas não recuou, não deixou-se abater, não entristeceu seu semblante. Sempre triunfante, determinado e animado. Foi assim que o encontramos.
Seu lema é: "vai dar tudo certo."
Seu estandarte é o amor e disponibilidade em servir e ajudar o próximo, fazendo jus o significado do seu nome.
A noite poderia ficar apenas um acompanhante, num consenso fiquei eu.
Como a previsão era para ter alta do hospital no dia seguinte, ficamos num quarto tipo enfermaria com mais três pacientes. O ambiente era limpo e arejado, tinha uma poltrona na frente do leito para o acompanhante e um pequeno armário, onde pudemos acomodar nossas coisas. Não me importava se iria passar a noite ali com pessoas desconhecidas, estava feliz por estar junto do meu menino, intercedendo por ele.
A noite é uma criança e passá-la em um hospital, são muitas as emoções...rss, mas enfim sobrevivemos.
Para finalizar, aproximadamente às 6 horas da manhã, ouvi bem próximo a janela do quarto, um pássaro novamente. Só que dessa vez ele cantou: "Bem-te-vi".
Juçara Silveira Santos - Imbituba 28/10/2014
Simplesmente lindo!!!!!!
ReplyDeleteQue lindo!
ReplyDeleteNão sabia que D.Juçara esscrevia tão poeticamente...
Agora já sabes como ela de ter conquistado o seu Donizete, né? rs
Beijão
*Geise